sexta-feira, 5 de junho de 2009

Saudação aos alunos finalistas da ESEQ em 2008/09

Queridos alunos,

Sei que alguns de vocês gostariam, muito sinceramente, que eu estivesse aí nesse jantar, convosco. Mas não posso.

O professor Acúrcio, meu mano, mesmo que filhos de pais diferentes, sabe as razões. Se vocês as soubessem também, sei que me compreenderiam. O meu mano, esse, já me perdoou a falta.

Esta ocasião é uma ocasião muito oportuna para citar o versículo bíblico de que tanto gosto, que tanto me diz:

- Fala, ancião, porque isso te compete; mas com discrição, não perturbes a música.

Tenho mantido, nos últimos tempos, uma troca epistolar muito interessante com um jovem aluno da nossa escola, que, eventualmente, estará presente nesse jantar. Ele é um rapaz magnífico, e as cartas que temos trocado têm sido para mim um prazer muito grande.

Mas, como lhe disse numa das últimas cartas que lhe mandei, houve tempos em que andei muito zangado com as palavras, odiei Fernando Pessoa e abominei tudo aquilo que ele escreveu.

A razão foi que, por causa das suas palavras (palavras arrumadas por quem tem jeito em mexer com elas), o meu grande ídolo daquela altura, o nadador português Rui Abreu se suicidou estupidamente, sozinho, numa banheira, no quarto da sua universidade, nos Estados Unidos, onde chegara com mérito e quando parecia que a vida lhe sorria e prometia um futuro de sonho. Ao lado da banheira, aberto, estava o livro com as terríveis palavras de Fernando Pessoa.

A solidão é mesmo uma coisa terrível! É da solidão que um grande amigo meu, um pouco mais velho do que eu, tem agora um medo cada vez maior.

Contudo, um dia destes, aconteceu-lhe uma coisa inesperada, que lhe trouxe apaziguamento e outra coragem para enfrentar os anos que antecipa à sua frente. Ele reencontrou um antigo aluno, que não via há cerca de 20 anos. E saudou-o tocando-lhe no ombro esquerdo com a sua mão direita, como sempre fazia com os seus alunos, olhando-os de frente.

O aluno, agora homem crescido, pousou a sua mão direita sobre a mão do seu antigo professor e, num suspiro que lhe veio do fundo da alma, disse para o meu amigo:

- Que bom, professor!... As saudades que eu tinha desse seu gesto!... Esse seu gesto é único, fez-me sempre tanto bem.

Quando o meu amigo me contou este episódio, eu falei-lhe dos gestos em que tocamos nos outros para nos excitarmos com esse toque; e nos gestos em que tocamos para, pelo contrário, podermos sentir nos outros a sua alegria de estarem connosco. E a nossa alegria de estarmos com eles.

As citações de autores e personagens célebres são coisas complicadas. São bonitas, podem ser profundas, mas podem também ter o encanto das serpentes tentadoras. Há frases lindíssimas escritas por homens tenebrosos!

Muito recentemente, recebi da minha colega Ermelinda uma daquelas citações que agora, recorrentemente, aparecem nas nossas caixas de correio da Internet. Só que, desta vez, vinha magnificamente ilustrada por uma aguarela lindíssima que ela própria pintou.

A citação é de Charles Chaplin. Diz assim:

"Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha,
porque cada pessoa é única e nenhuma outra a substitui.
Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha,
e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova
de que as pessoas não se encontram por acaso."

Queridos alunos, queridos colegas,

Permitam-me a fantasia de vos fazer uma proposta:

- Mano Acúrcio, orienta aí o pessoal!...

Passem o vosso braço por detrás de quem tiverem à vossa direita e poisem a vossa mão sobre o seu ombro. Deixem-se estar assim um bocadinho, sintam esse bocadinho e guardem-no na vossa memória. Procurem tomar consciência da alegria que neste momento vos percorre. Só da alegria mesmo! Porque a tristeza e a saudade também estarão hoje aí no meio de vocês. Seguramente. Por isso, repito, dêem primazia à alegria e tentem tomar consciência da alegria e do prazer que é estarem assim juntos.

(…)

Vamos ver quem se lembrará deste gesto daqui a 20 anos.

Desejo a todos um bom jantar, desejo a todos uma festa linda!

Como dizem os Trovante, num poema dedicado a uma pessoa muito especial, que tive a felicidade de conhecer e de quem fui grande amigo,

Há quem espere por nós assim
mesmo ao meio da rota do fim
há quem tenha os braços abertos
para nos aquecer
e acenar no fim.

Queridos alunos finalistas, na Escola Secundária Eça de Queirós haverá sempre alguém de braços abertos à vossa espera, para vos receber com alegria e companheirismo.

Numa dádiva que me esforçarei sempre por merecer, recebi do nosso querido aluno João Soares Matos, já nesta semana, uma mensagem no meu blogue que diz assim, entre outras coisas belas e deliciosas: Com esforço e dedicação, todas as estrelas estão à distância de um abraço. (…) Sinto-me privilegiado por frequentar a Eça de Queirós, que brilha sob o céu azul todos os dias.”

Queridos alunos,

- Felicidades nas vossas vidas, vão dando notícias!

- Até sempre, queridos alunos!

- Até um dia destes na Escola, queridos colegas e amigos!